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quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Cravo da Revolução, ou como um piropo mudou a história

Existem várias versões sobre a forma como o cravo se tornou o símbolo do "25 de Abril", havendo apenas consenso quanto à sua protagonista. Como tal, tenho também a minha versão, que aqui partilho...

Esta é Celeste Caeiro, a mulher que fez do cravo o símbolo da Revolução.
Celeste conta agora com 80 anos, fustigados na sua última metade pela quantidade de vezes que foi obrigada a contar sua história ao jornal "Avante!":
- "É todos os anos o mesmo! Mal chegamos ao mês de Abril começa a romaria de comunistas à minha porta."
No entanto, à data da Revolução, Celeste tinha 40 aninhos acabados de fazer e, segundo, palavras da própria, era "bem jeitosa e com tudo no sítio" e a rapaziada passava a vida a mandar o piropo da ordem, tendo sido essa popularidade que esteve na origem do episódio dos cravos.
Celeste ia a caminho do Rossio e levava no regaço um molho de cravos. Quando lá chegou, deparou-se com um mar de gente que enchia por completo a praça. Não fosse o facto de ainda estarmos em 1974 e aquela aglomeração de gente poderia muito bem ser uma manif a favor do casamento homossexual que, como todos sabemos, é a causa que mais gente consegue reunir nos dias que correm. Mas não era.
Ao passar próximo de uma coluna militar, Celeste é interpelada por um militar que, com um sotaque beirão, do alto do seu veículo lhe diz:
- "Ó jeitosa! Queres vir dar uma voltinha na minha chaimite? Tens uns "faróis" maiores que os duma "berlier"! Havia de ser estilhaços por todo o lado!!!
- Credo, senhor militar! Até me assustou! Eu sou moça de famílias, tá bem? Que raio estão vocês aqui a fazer?"
- Não sei bem, mas acho que é pra fazer uma revolução. Sabe, eu hoje até estava de folga... mas como me disseram que no fim há porco no espeto e tinto à descrição... olhe... vim...! Mas isto está a ser uma seca! O raio do rádio da chaimite tá sempre a tocar o mesmo. Ora Paulo de Carvalho, ora Zeca Afonso... já deito o Grândola Vila Morena p'los olhos! Olhe menina...! Não quer vir dar uma voltinha? É que eu tenho de ir meter gasóleo. Aproveitavamos, iamos ali até Monsanto e a menina ajudava-me a limpar a espingarda. Tá a ganhar ferrugem da falta de uso.
- Tenha respeito! Já lhe disse que não sou dessas! E mais a mais o meu marido deve estar pra chegar. Combinei encontrar-me aqui com ele. Não dava tempo de ir a Monsanto e voltar.
- Tá visto que hoje nem um tiro dou....
- E estão aqui desde que horas?
- Ui! Desde cedo. Já andamos nisto desde ontem à noite! Isto de fazer revoluções não é assim com duas tretas, pra mais pra quem não está habituado. E, mais a mais, pra estas coisas convém vir cedo pra se apanhar os lugares da frente. Caso contrário, não se vê nada! 
Olhe! Acabou-se-me foi o tabaco. A menina não tem por aí um cigarrito que me dê, não?
- Cigarros não tenho, que não fumo disso. Mas tenho aqui cravos e posso-lhe arranjar um. Não é a mesma coisa mas dá pra desenrascar. Há quem fume barba de milho e a coisa deve ir dar ao mesmo. Quer um cravo?
- E como é que eu vou fumar o raio do cravo? Isso tá verde! Não quero o cravo pra nada! Isso dá pra cheirar, mas não dá pra fazer linhas direitinhas.
- Deixe-se disso! Mete-se o cravo aqui na ponta da sua espingarda, ele seca num instante e depois já o fuma...."
Ilustração:
Jorge Brito Drawings

E assim foi. Os restantes militares presentes acharam piada à coisa e desatou tudo a enfiar cravos nos canos das espingardas.
E se assim não foi, podia muito bem ter sido e eu gostava que tivesse sido....