Durante todo o dia de ontem, fomos transportados para o imaginário fantasioso de príncipes e princesas e histórias de encantar, empurrados pela mediática novela que os "media" e as redes sociais teceram à volta do nascimento de uma criança como tantas outras, mas diferente por ser o filho varão de William e Kate, futuro Rei de Inglaterra e seus arrabaldes, e a quem eu carinhosamente chamei de "Symba, o Rei dos Bifes". Ora, como a Realeza até para nascer é complicada, o puto só nasceu ao fim de mais de 10 horas de trabalho de parto. Fosse a Fanny e a coisa estava despachada em menos de 5 minutos e perfeitamente a tempo de ir fazer uma presença numa discoteca.
Este puto, que ainda agora nasceu, já tem a vida ganha e as preocupações dele não irão muito além de escolher a roupa que vai vestir e evitar meter-se em escândalos muito grandes. O recorde Real está, para já, em aparecer nu em todas as capas de tudo quanto é jornal e revista do mundo ocidental e é detido por Harry, tio do pirralho.
Vai ter um séquito de amas para lhe trocarem a Real fralda 'Armani', vai ser um puto chato, birrento e mimado e vai poder bater nos outros putos do infantário só porque é príncipe. Os pais vão poder escolher gratuitamente entre os melhores colégios privados e os reitores das melhores universidades vão fazer fila à porta do Palácio onde vai morar. Vai passar a juventude rodeado de gajas boas, vai "snifar" cocaína da melhor qualidade, apanhar borracheiras monstruosas com os melhores 'whiskys' e 'Gins' e vai fazer desintoxicações secretas nas melhores clínicas de reabilitação do mundo. E o curso superior, esse lá há-de aparecer, mais que não seja pelo método 'Relvas'. Ser Rei deve dar equivalência, no mínimo, a um doutoramento. Há-de acabar por casar com uma 'Kate' qualquer e vai ter putos iguais a ele. Finalmente vai ser Rei, ter à sua disposição um orçamento anual de milhões para gerir como lhe der na Real gana e vai poder gastar por dia aquilo maior parte dos mortais não ganha numa vida inteira de trabalho.
Este puto, que ainda agora nasceu, já tem a vida ganha e as preocupações dele não irão muito além de escolher a roupa que vai vestir e evitar meter-se em escândalos muito grandes. O recorde Real está, para já, em aparecer nu em todas as capas de tudo quanto é jornal e revista do mundo ocidental e é detido por Harry, tio do pirralho.
Ilustração: Jorge Brito Drawings |
Os pais dele, esses, não terão de se preocupar em garantir que na próxima refeição haja comida para pôr na mesa. Não chegarão ao mês de Agosto a fazer contas àquilo que vão gastar em Setembro com livros e material escolar para mandar o pequeno príncipe para a escola, nem se no próximo mês vai haver dinheiro para pagar a propina da faculdade. Nunca ele saberá o que é ter de procurar trabalho ou estar desempregado. O trabalho dele é ter nascido e esse trabalho está feito, enquanto que para o 'plebeu' é precisamente aí que começa a trabalheira.
Mas isto assim não tem piada nenhuma. Uma vida sem conquistas, sem vitórias, uma vida em que se tem tudo como um dado adquirido e as coisas "caem do céu", não permite apreciar as pequenas coisas da vida, muito menos saber o seu valor.
Nunca ele experimentará a inigualável sensação de comprar uma carteira de cromos com o dinheiro poupado de uma parca mesada, nem nunca os pais dele conhecerão o brilho de felicidade nos olhos de um filho a quem acabaram de oferecer uma PlayStation em segunda mão, 'crackada' porque os jogos são caros, e para a qual tiveram de andar um ano inteiro a juntar dinheiro.
Estes, sim, são os pais que mereciam ser notícia de abertura dos telejornais e que mereciam ter uma coroa na cabeça. E foi nestes pais que eu pensei ao assistir a todo o circo montado à volta do nascimento do 'Royal Baby Boy': nos pais que saem de casa todos os dias para irem lutar pelo garante do sustento e educação dos filhos e não naqueles que para o garantirem basta terem um nome que não cabe no bilhete de identidade...
Estes, sim, são os pais que mereciam ser notícia de abertura dos telejornais e que mereciam ter uma coroa na cabeça. E foi nestes pais que eu pensei ao assistir a todo o circo montado à volta do nascimento do 'Royal Baby Boy': nos pais que saem de casa todos os dias para irem lutar pelo garante do sustento e educação dos filhos e não naqueles que para o garantirem basta terem um nome que não cabe no bilhete de identidade...
"O dinheiro, a fama e a fortuna podem ter o seu brilho momentâneo; Mas as coisas realmente importantes da vida, aquelas capazes de nos marcar a existência, dinheiro algum pode comprar."